Sejam bem vindos nessa casa, onde despida de qualquer pudor, ouso ser eu mesma!

Sejam bem vindos nessa casa, onde despida de qualquer pudor, ouso ser eu mesma!

Que ela possa ter alguma valia para quem lê, estuda , sente e vive a questão aqui tratada. E que de alguma forma minha experiência possa orientar. Sem medo, mostro meu caminho, o caminho que estou seguindo no desejo de ser feliz no desejo de estar bem e viver bem e no desejo de que um dia , possam todos em um nivel melhor e mais elevado de consciência, estarmos numa mesma vibração de amor e respeito uns aos outros! E que sejam bem vindos todos os filhos desse universo e que todos os pais sejam um dia iluminados com o poder do verdadeiro amor filial. O amor é assim: sem egoismos, sem orgulhos, sem pudores, feito criança ele apenas sente...por enquanto é isso!

http://www.youtube.com/watch?v=WBSAVK2xLgU
decidi colocar esse link: DA MULHER INVISIVEL porque todos que estão a trabalho da alma e não pelo ego, são invisíveis!

quarta-feira, 30 de março de 2011

A DOR DA REJEIÇÃO E A DOR FÍSICA - SÃO DORES REAIS INTENSAS...

29/03/2011 - 10h36

Dor da rejeição e dor física ativam mesma região do cérebro, diz estudo

Da Agência Fapesp
  • Pesquisa indica que rejeição social machuca Pesquisa indica que rejeição social machuca
A dor da rejeição não é apenas uma figura de expressão ou de linguagem, mas algo tão real como a dor física. Segundo uma nova pesquisa, experiências intensas de rejeição social ativam as mesmas áreas no cérebro que atuam na resposta a experiências sensoriais dolorosas.
“Os resultados dão novo sentido à ideia de que a rejeição social ‘machuca’”, disse Ethan Kross, da Universidade de Michigan, que coordenou a pesquisa. Os resultados do estudo serão publicados esta semana no site e em breve na edição impressa da revista Proceedings of the National Academy of Sciences.
“A princípio, derramar uma xícara de café quente em você mesmo ou pensar em uma pessoa com quem experimentou recentemente um rompimento inesperado parece que provocam tipos diferentes de dor, mas nosso estudo mostra que são mais semelhantes do que se pensava”, disse Kross.
Estudos anteriores indicaram que as mesmas regiões no cérebro apoiam os sentimentos emocionalmente estressantes que acompanham a experiência tando da dor física como da rejeição social.
A nova pesquisa destaca que há uma interrelação neural entre esses dois tipos de experiências em áreas do cérebro, uma parte em comum que se torna ativa quando uma pessoa experimenta sensações dolorosas, físicas ou não. Kross e colegas identificaram essas regiões: o córtex somatossensorial e a ínsula dorsal posterior.
Participaram do estudo 40 voluntários que haviam passado por um fim inesperado de relacionamento amoroso nos últimos seis meses e que disseram se sentir rejeitados por causa do ocorrido.
Cada participante completou duas tarefas, uma relacionada à sensação de rejeição e outra com respostas à dor física, enquanto tinham seus cérebros examinados por ressonância magnética funcional.
“Verificamos que fortes sensações induzidas de rejeição social ativam as mesmas regiões cerebrais envolvidas com a sensação de dor física, áreas que são raramente ativadas em estudos de neuro-imagens de emoções”, disse Kross.

O NOME - APRENDENDO QUEM SOMOS NÓS! ONDE ESTAMOS NÓS! QUE ALMA NOS HABITA!

A professora escreveu o nome incompleto, a aluna copiou o nome completo. Primeiras letras, primeiros sonhos...da cartilha Caminho Suave, e só depois de muitos anos entendi que o caminho deve ser assim: suave!
O caminho suave é o caminho do meio - dá trabalho porque estar nele é puro auto-conhecimento, entretanto alegria e a dor de se ter esse conhecimento é algo inimaginável.

O CADERNO - O PEDIDO DE DESCULPAS - A DEDICATÓRIA - E A CASA -



O QUE UMA CRIANÇA NÃO É CAPAZ DE TRANSPOR EM DESENHOS SUA DOR E ANGÚSTIA! PROFESSORES NÃO VEEM, MÃE NÃO VIU? NÃO DESEJOU VER NEM SABER!


A CASA - SEMPRE UMA CASA - UM LAR - UM LUGAR SEGURO E FELIZ (?)
DESEJOS ESCONDIDOS NUM SIMPLES DESENHO
DE UMA CRIANÇA - DE 7 ANOS -

quinta-feira, 17 de março de 2011

CAPITULO IV - A CASA -

Malu estava lá. Na sua casa. A casa ...sabem o que isso significava? A casa? Casa é sinônimo de lar, familia, refúgio, teto, segurança, tranquilidade, amor , sim amor, paz, enfim...hoje Malu sabe disso porque hoje é um tempo que faz tempo do tempo que passou quando ela estava na sua casa....primeiro lar!
Acredito que a relação dela com a casa deveria ser um desejo inconsciente de se ter a familia por perto. Pai e mãe juntos ou não, mas perto. Um pai presente, principalmente. Não saberia avaliar o sentido dessa casa naquele momento, porque tudo acontecia de forma instintivamente a nem permitir o raciocínio dos acontecimentos dada a rapidez , da forma como tudo foi se passando. Hoje, já crescida, pode avaliar com calma esses fatos.
A casa estava lá e ela estava na casa. Pela primeira vez na vida sentiu uma solidão boa, calma e tranquila. Morar sozinha foi a melhor coisa que lhe acontecera nos ultimos tempos, pensava. Malu finalmente conseguia um pouco de silencio.
Com a casa veio também seu primeiro trabalho. Malu conseguiu assim: Foi até um banco onde a conheciam, porque sua avó frequentava por muitos anos esse banco e ela muitas vezes foi acompanhá-la, então decidiu se dirigir até esse banco, chegando lá chamou o gerente – ela lembra nome e sobrenome – e disse assim: _ Sr. Fulano, tudo bem? Lembra de mim? Sou a neta da fulana, estou morando aqui na cidade e fazendo faculdade de direito e preciso trabalhar, pensei em te pedir um emprego aqui no banco, existe alguma vaga , algum serviço que possa fazer? Quero trabalhar aqui!- O homem surpreso lhe disse que poderia sim...então tudo começou ai!
Já com dezoito anos iniciou seu primeiro trabalho naquele banco. Foi um tempo: m a r a v i l h o s o! Um dos melhores de sua vida!
Funcionava assim: a casa onde morava era da avó, consequentemente a isentando de pagamento de aluguel, a avó também lhe custeava a faculdade, então seu salário seria para as suas depesas pessoais e livros, porque ela fez questão de avisar os avós que os livros ela compraria. Malu lembra que sequer indagou , em nenhum momento qual seria seu salário – iria começar no banco como auxiliar de escritório – era esse o nome do cargo – salário? Nem pensou nisso! Só viu quando a pessoa do RH a chamou na hora de registrar a carteira e viu lá um numero que para ela era muito “grande” e ficou super feliz!
Malu fez tudo premeditado, pensou nesse banco por estar perto de sua nova casa. Cinco quarteirões de sua casa, mesma rua, só seguir em frente! Não era um sonho? Pensava! Poderia ir tranquilamente a pé.
Vida nova! Primeira casa, primeiro trabalho, faculdade...primeiro namorado...ela nem queria namorar, como sempre, a vida deu um super salto! Parte da angústia havia passado, parte, pois estava entorpecida pelos ultimos acontecimentos em sua vida. As mágicas estavam funcionando...
O trabalho era simplesmente fantástico! Ajudava também o fato de ter muitos jovens cursando faculdade e a mesma faculdade de Malu, se não fosse direito era administração, então a “turma” era fantástica! Naquela época os bancos abriam logo cedo, creio que 8h00 , Malu trabalhava das 08h00 às 14h00, maravilhososo! Depois ainda com a tarde toda livre, a faculdade só a noite. Com isso foi mobiliando melhor sua casa, arrumando sua vida.
Na primeira semana da faculdade Malu estava tão radiante, tudo indo tão bem que até pensou: Nem quero namorar, senão estraga! (olhem só o tipo de pensamento, a situação emocional dela, assimilando uma estória anterior, de seus pais, como fracasso total e carregando isso para a sua vida), mas o fato é que na segunda semana de faculdade caía por terra sua promessa! Na segunda semana de faculdade já estava namorando.
Casa, emprego , primeiro namorado, tudo novo, Malu ficara feliz porque se sentia muito bem recebida pela familia de seu namorado. O que era muito importante para ela. Ela sentia o preconceito de ser filha de pais separados, naquela época isso existia...e ela ainda voltou para cidade onde tudo aconteceu, reviveu o passado de seus pais. Isso foi muito difícil para ela...mas dentro daquela familia do seu namorado, existia um sentimento muito confortável e acolhedor. Familia que era extremamente católica, não se importava pelo fato dela morar sozinha – é isso isso também acontecia... afinal que menina mora sozinha numa cidade pequena daquela? - cadê os pais dela? - Mas o fato é que essa família a acolhia sem julgá-la. Uma linda familia, uma familia realmente feliz era aquela, e Malu e seu namorado formavam o casal perfeito da faculdade, mas alguma coisa acontecia dentro dela...sentimentos obscuros e confusos estavam lá ainda...e iriam ficar por muito muito tempo...
Estava na mesma cidade que seu pai morava...foi aí que ela se percebeu de algo maior...o destino havia se incumbido de aproximar esses dois ao menos geograficamente! Coincidências?
Antes, estava numa cidade a quase 500km de distância, agora na mesma cidade onde nascera, onde seu pai morava...e agora?
As coisas são tão incríveis na vida, tão mágicas e acontecem numa velocidade tão impressionante que muitas vezes, na grande maioria das vezes nem percebemos os milagres, as mágicas, as “penas azuis” que se materializam. (essa estória está em capitulo anterior)
Em um dado momento Malu e sua mãe se desentenderam por telefone seriamente. Demorou , pensou ela. Então não havia outro caminho a seguir, senão procurar finalmente seu pai. Malu queria saber quem era seu pai, como era seu pai, afinal ele era mesmo esse monstro desumano?
Para voces terem uma idéia, os pais da Malu foram um casal famoso na cidade, na época, de um lado a mãe era a mulher mais bela daquela cidade naquela época, verdadeira Liz Taylor. Isso gerava repercussão , claro! Malu não sabe dizer muita coisa a respeito de tanta fama dos pais, talvez pela forma com que separaram, numa pequena cidade do interior deve ter gerado comentários e certos escândalos! Mas o fato é que quando estava trabalhando no banco, muitas vezes chegavam alguns clientes para ela atender que simplesmente olhavam e diziam: _ Nossa, voce é filha do Georgetti? Malu assustada porque nem conhecia tais pessoas simplesmente confirmava, e então ouvia: _ Sabia que a filha dele estava na cidade, mas não sabia que estava trabalhando aqui e ao te ver te reconheci porque voce é a cara de seu pai! Impresionante! Acreditem, as pessoas iam ver a filha do Georgetti naquele banco....Malu virara certa atração turistica, iam ver a filha da mãe – fulana de tal - (literalmente, o nome da mãe não foi falado aqui, então fica sendo a filha da mãe mesmo) e a filha do Georgetti! Certa vez, uma amiga de sua mãe a reconhecera e quase que adicinhando a angústia de dentro dela falara: _”Menina , voce foi a criança mais desejada, mais amada e bem recebida desse mundo! Sabia disso?” - Hã, como assim? O que essa louca está falando?
Num momento de grande angústia e coragem, Malu brigara com sua mãe, estava realmente só na vida, não importando naquele momento se os avós eram esses avós maravilhosos, se seu namorado era espetacular e se a familia desse namorado a recebia de forma carinhosa e amável, não importavam suas amizades na faculdade nem no trabalho, Malu estava repleta de pessoas ao seu redor, mas estava só. Sempre soubera disso e agora, depois que havia descartado sua mãe de sua vida – aquelas brigas de adolescente, passionais – estava só, imersa nessa solidão incomensurável de vida. Sua alma sentia a dor e a angústia de tudo e de nada!
_Preciso conhecer meu pai, afinal ainda posso tê-lo, dizia. E num misto de angústia, dor, medo e coragem tirando de sua alma esse desejo maior que tudo, pensou por qual caminho iria passar até chegar nele? E lançou-se ao mar da vida!

segunda-feira, 14 de março de 2011

CAPITULO III - A CASA - UM NOVO LAR (?)

Por incrível que pareça, pelas coincindências ou não da vida, Malu foi morar sozinha numa casa,certo? Sabem que isso passou...impressionante como passou até mesmo para ela o fato de que a casa que ela foi morar era justamente a mesma casa onde seus pais casaram! A mesma casa onde fora realizada a festa do casamento de seus pais! A mesma casa onde foi cortado o bolo de casamento de seus pais! Não sabe explicar o motivo de não ter percebido logo de imediato, o fato é que depois de muito tempo , Malu percebeu o que acontecera. De certo modo , em todos os sentidos estaria buscando suas origens! 

 

quinta-feira, 10 de março de 2011

CAPITULO III - PAGINA 11 - AOS DEZESSETE -

AOS DEZESSETE



Ok. Malu, fugiu de casa, curtiu , sofreu , mas teve que retornar. Estava alí , já havia dois anos, dois anos perdida naquele lugar, naquela estranha e nova cidade,naqueles pensamentos.

Ainda hoje, depois de tantos anos, consegue definir as imagens que via quando pegava o onibus de manhã para sua aula e ia seguindo no olhar àquelas ruas, edificios...cheiros e coisas, paisagens de sua janela do onibus totalmente desconectadas com seu pensamento, paisagens estranhas, nem por isso deixavam de ser belos, mas estranho porque não lhe eram nada familiares. Lugares frios, pessoas frias, coisas geladas. Tudo era muito longe dela, a sua vida estava em outro lugar. Perdida no seu próprio mundo de incertezas e todo o resto desconectado dela mesma. Não sabia dizer ou definir seus objetivos e isso sempre lhe angustiava. Parece que todo mundo sabe o que quer da vida, mas ela se perguntava e nada sabia...isso realmente lhe angustiava...

Malu lembra de uma época que a propaganda de cigarros ainda não era proibida e havia um comercial que sempre lhe martelava à cabeça. Por um bom tempo na sua vida lhe cobrava o que aquele comercial de cigarros dizia e dizia assim: (nome do cigarro, era minister )” Minister ,para quem sabe o que quer. Quem sabe o que quer vai mais longe, minister! “ Essa frase perturbou-a por muitos anos, porque ela ficava se perguntando o que realmente desejava? O que queria? Simplesmente não conseguia definir nada, nada e nada! Isso a angustiva e já fazia se sentir fracassada antes sequer de ao menos se saber o que ela desejava....essa sensação de não conseguir se definir a fez sentir desde cedo uma sensação muito forte de fracasso, afinal ela não iria muito longe na vida, porque a frase martelava....martelava....pois é, veja a força que tem um comercial de televisão desde cedo na mente das pessoas...uma criança...a sensação de fracasso obviamente não era proveniente daquele comercial, e sim possuía raízes mais profundas dentro de sua alma, mas ela não sabia disso, não conseguia ver nada.

Agora com dezessete e desde o comercial, devia ter uns quatorze anos....não lembra....já pensava sobre o assunto. Mas como nada lhe vinha em mente, uma vida sem uma causa, sem nexo, sem objetivos....afinal, quando alguém tem objetivos? Afinal, Malu ainda era uma criança...adolescente...desde sempre se questionando e cobrando dela mesma uma posição na vida que não sabia dizer a sí mesma qual era....apenas se sentia de fora , sempre ao lado de fora...

Imaginem que isso era anos 80 , inicio, não havia, ao menos aqui no Brasil, computadores, celulares, essa interatividade toda, as pessoas eram menos informadas, nem por isso mais ou menos solidão, não é essa a questão. A questão é que hoje os adolescentes nem sabem mais ficar sozinhos consigo mesmos. Ou estão na frente do computador, ou passam horas no celular ou estão dormindo. Malu só ficava com ela mesma, sem celular, nem computador, apenas ela mesma. Talvez isso tenha sido muito ruim....ou talvez não...vá saber...ninguém sabe...a solidão era até boa companhia, pois quando estava só estava em silencio, pensava ela, só que esse silencio talvez não fosse o “bom silencio” era apenas um silencio de ambiente, não de mente. Sua fuga era devorar toda a coleção da Agatha Christie, leu tanto que já decifrava essa autora, leu muitos livros best seller da época, pois sua mãe colecionava-os, lia livro que sequer compreendia, lia também Harold Robbins, adorava isso! Sua casa sempre fora muito barulhenta, sempre, por isso desde os quinze anos pensava: “Um dia iria morar sozinha...” Sentia um silencio inquisidor, perseguidor, talvez os pensamentos fossem apenas desejos de fuga, sonhos de qualquer adolescente, não sei dizer agora...mas Malu sempre estava só, dentro dela.

Agora com dezessete, terminava o colegial, terminava os estudos e ia fazer o que? Qual faculdade? Onde? Como? A idéia de morar sozinha estava tão dentro , um propósito tão forte...bom, então um propósito, um desejo ela conseguia visualizar. Mas naquele momento ela não tinha a menor consciência disso!

Desde os quinze anos, desde quando decidira fugir daquele jeito, (é o capitulo da fuga) imaginava que poderia logo logo estar só em sua casa. Ah! Um lugar só dela, quieto em paz, pensava.

Nessa época Malu havia lido um livro chamado Ilusões de Richard Bach , depois de ter lido e visto o filme Fernão Capelo Gaivota do mesmo autor – no livro , na capa do livro há uma pena azul, essa pena azul simbolizava um exercicio de materialização de uma idéia. Malu então decidiu se por à prova desse teste e pensou: Vou usar isso, vou mentalizar para que materialize meu sonho , meu desejo de morar só. Então num exercício de fé, intuitivamente e sem que ninguém soubesse, entrou numa loja de departamentos e escolheu um jogo de pratos rasos para cozinha e ao comprar mentalizou que esse jogo somente seria aberto quando estivesse em sua casa! Isso aos quinze. Ao chegar em casa, Malu escondeu aquilo dentro de seu guarda-roupa, deixou lá dentro um pacote fechado bem escondido para que não despertasse a curiosidade de sua irmã e esta destruísse o pacote. Ficou lá por um ano e meio, ou menos ou um pouco mais, não importa. O que aconteceu depois foi pura mágica do universo e Malu, estava provando disso conscientemente pela primeira vez em sua vida! Essa mágica foi incrivelmente fortalecedora para sua alma.

Ao término do colegial, ainda pensava o que pretendia cursar na faculdade, na verdade Malu não desejava entrar logo para a faculdade, ela experimentara algumas aulas num cursinho e realmente havia adorado o ambiente, as aulas , tudo! Então seu desejo era fazer um bom cursinho e depois viver a faculdade, afinal ainda se sentia insegura para entrar nesse universo de “adultos” porque faculdade parecia mundo de “adultos”. Pois é. Estava passando as férias de dezembro e janeiro do inicio do ano de 1983 na casa de sua avó numa pequena cidade distante a apenas 25 km mais ou menos de sua cidade natal. Martinópolis...uma pequena e pacata cidade do interior do estado de São Paulo. A avó instigava a neta, perguntando o que ela desejaria cursar, Malu pensava então em direito ou em psicologia ou até em marketing e propaganda, essa última opção, talvez a mais atraente para Malu, se ela não se engana, naquela época só devia ter na cidade de São Paulo, capital, o que parecia meio inviável como logistica financeira e talvez emocional, não sabe dizer ao certo os motivos que fizeram declinar de São Paulo, mas então ficou com a opção do direito e a avó dizia: “Vem cursar faculdade aqui em Prudente (Presidente Prudente) assim voce mora um pouco comigo afinal são somente 25 km de distância tem onibus toda hora...Malu pensou na possibilidade, ela gostava da avó, e também era uma oportunidade em ficar mais longe de casa...uma outra casa...quem sabe mais calma...sei lá...pensava....então fez a inscrição no vestibular, mas a idéia ainda era fazer cursinho em Campinas e finalmente adotar essa cidade, mas pelas artimanhas da vida, Malu passou e passou bem. É aquela estória de não se acreditar no próprio potencial, ou então quando a mente está relaxada ela trabalha melhor porque não havia pressão em passar em vestibular, afinal mal saíra do colégio, com dezesste na faculdade já? Naquela época , acreditem até passar em faculdade privada era mais difícil, a coisa toda era mais séria. Malu estudou em colegio público, era bom.

Então passou na faculdade, bom, frio na barriga, eis que os planos de morar com a avó diante do fato real de que estaria na faculdade mudaram. Temendo a reação da avó disse que pretendia morar sozinha na cidade de Presidente Prudente, quem sabe, talvez numa das casas que a avó possuia e alugava, pensou numa pequena casa que ficava num lugar perfeito para ela iniciar-se sozinha nessa aventura e com a sensação de proteção pela localização da casa. Falou para a avó: _ A casa que fica no meio da casa da Lidia, lá aquela casa é perfeita para mim. - A área parecia um mini-condominio de casas construídas pela avó e pela tia-avó. Na frente dois sobrados, sendo que um residia a tia , ao lado a avó alugava para uma clinica ou escritorio de arquitetura, aos fundos uma outra casa onde residia essa inquilina da avó a Lidia, uma pessoa maravilhosa que ficou por lá mais de dez anos e que era muito querida por todos, então Malu pensou na casinha que fica exatamente entre essas duas, bem no meio, escondida para quem passa na calçada. Na frente uma tia, uma inquilina e aos fundos uma outra inquilina amiga da familia há mutos anos, lugar perfeito pensou! _ Mas será que a avó iria apoiar? A avó ainda era das antigas...desejava ver a neta casar virgem, não tinha papos de avó moderna , foi repressora de sua filha, mãe da Malu por todos esses anos....como poderia apoiar uma idéia desse porte? Entretanto por mistérios da vida essa avó foi a primeira pessoa a dizer que gostara da idéia e ainda disse a Malu: _ Por que não me disse antes, acabei de alugar a casa para uma república de garotos? Mas no mesmo instante a avó se dispôs a resolver a questão. Deu meia-volta volver e depois de um dia ou dois chegou para a Malu e disse: _Questão resolvida, já “desaluguei” pode morar lá.

MINHA NOSSA SENHORA DOS DESABRIGADOS! MINHA NOSSA SENHORA DOS SEM TETOS! MINHA NOSSA SENHORA DOS SEM FAMILIA! MINHA NOSSA SENHORA DOS DESEJOS INSANOS!

A pena azul se materializou!

Vamos aos preparativos para iniciar-se à iniciação!

Vamos colocar os pratos nos devidos lugares, e foi o que aconteceu, aquele jogo meio velho já guardado foi aberto em sua nova e quieta casa, agora seu novo lar! 
 

FUGINDO DE CASA - CAPITULO NA INTEGRA -


CAPITULO I - FUGINDO DE CASA -

Primeira parte – capitulo I -


Quando se tem quinze anos, você pode dizer que tem quinze anos e pode fazer o que desejar porque você tem quinze anos. Malu com quinze anos, morava numa cidade que considerava “a cidade” maravilhosa, pois dentro dela havia tudo o que uma adolescente deseja. Estava no inicio e promissor tempo de sua adolescência. Era uma linda garota, desejada e estava conquistando amigos por todos os lados. Ou seja, se achava o último biscoito do pacote, ela e uma de suas melhores amigas,elas simplesmente se achavam.

Morava numa pequena e tranquila cidade do interior, devia haver uns 60 mil habitantes naquela época. Cidade onde , talvez, até hoje ainda existam tribos indígenas, por essa razão o nome da cidade é Tupâ, fica no interior do estado de São Paulo.

Morava a três quadras da escola que estudava, na mesma rua, o que para ela era realmente uma benção. Não precisava que ninguém a levasse a escola, e poderia dormir até mais tarde, acordando sempre no último minuto do tempo necessário para se arrumar e sair correndo. Era um tempo bom, pensava, apesar da solidão, uma solidão estranha que sempre a acompanhara, ela simplesmente estava amando a cidade e seus amigos.

Suas aulas de educação física eram sempre no período da manhã, coisa que ela detestava, alías qual adolescente gosta de acordar cedo? Já dormia com o uniforme azul marinho parecido com o da marca adidas, com aquelas faixas ao lado, obviamente sem o nome da marca, apenas o uniforme que lembrava em muito esse tipo de agasalho que ficou tão famoso e virou objeto de desejo de consumo. Pois bem, já dormia de uniforme para não perder tempo ao acordar. E por ser a rua da sua casa, caminho da escola, todos as manhãs, passavam por lá outros colegas que também iam a pé até a escola e gritavam pela janela de seu quarto , que era justamente a janela que dava para a calçada, gritavam: _ Maguary, maguary é o sucooo! - isso porque Malu , apesar de ter já seus quinze anos, ainda levava à aula, uma lancheira para seus lanches na hora do recreio – hoje intervalo – e dentro dessa lancheira, sem nenhuma vergonha, todos os demais obviamente deveriam ter vergonha de carregar aquele negócio em idade que julgavam ser tão avançada, levava suco maguary (sem propaganda, não está recebendo nada por isso, apenas trata de uma lembrança dela mesmo) e levava seu mais delicioso leite condensado caramelizado com flocos crocantes e o puro chocolate nestlé: chokito! (outra lembrança) Era o chocolate mais delicioso do mundo para ela. O chato dessa menina era que ela muitas vezes era chata mesmo! Mostrava para todos o lanche, ou então todos queriam ver sempre o que ela estaria levando para aquele dia, ela mostrava, mas na hora do recreio ela sumia e comia tudo sozinha, para depois retornar de seu esconderijo sem nada e ainda chorar algo mais para os outros que bravos ficavam por ela não ter dividido nada!

Malu é gulosa até hoje...

O fato é que essa época era boa, vivia uma fase boa, pensava...
Quando fez seus quatorze anos, o pessoal da escola se dispôs a fazer uma brincadeira dançante no fundo de sua casa, no quintal, e nesse tempo todos ajudaram. Os meninos montaram no fundo da casa, uma boate ao ar livre, com direito a globo , luzes coloridas, daquelas bem bregas mesmo, de casa noturna xexelenta, mas que no final era isso mesmo que os jovens daquele tempo faziam. Então a festa foi um sucesso! E ainda lembra da roupa que usava. Um vestido branco, lindo e pela primeira vez o salto alto! Ahhhh o salto alto. Caracterizando para ela a transição de idades e fases, crendo que por saber usar um salto alto já era mulher! Essa época achava ser a melhor, talvez tivesse sido mesmo.

As descobertas de novas amizades, o despertar para os namorinhos, as festinhas dos quintais, e pasmem! A turma ainda brincava na rua! Brincavam de queimada na rua até esquecer da janta. Isso com quatorze, quinze anos. Brincava de pique-salva, era muito divertido. Os amigos eram vizinhos e colegas da escola. Fechavam uma rua paralela para brincar de bets. Alguém sabe o que é isso? É um jogo de taco e bola. Divide-se a rua e em cada ponta ficava uma pessoa com um taco, um de frente para o outro, reservando uma certa distância, acredito que uns 8 metros, e tendo ao fundo, atrás da pessoa que ficava com o taco, uma outra com uma bola na mão. Parecia um pedaço de jogo de beisebol. A pessoa com a bola na mão , mirava o que ficava em sua frente, alguns metros adiante para arremessar a bola e não permitir que aquele que estava com o taco na mão conseguisse rebater. Então ela arremessava a bola e se o rebatedor não conseguisse rebater a bola que ia longe, fazendo que que o arremessador daquele ponto corresse atrás da bola até trazê-la de volta, e enquanto corria ficava o arremessador que jogou a bola contando em numeros o tempo demorado, esses numeros significavam os pontos ganhos. E assim ia. Queimada, taco e pique e salva era a brincadeira mais bacana do mundo para ela. Pique e salva era um esconde-esconde mais sofisticado! Os amigos se reuniam na rua mesmo , dividiam-se em grupos e um ia procurar o outro. Isso fazia com que todos entrassem nas casas de todo mundo pelo bairro , pelos quintais se escondendo. Coisa absurda nos dias de hoje! Era realmente muito divertido para ela e seus amigos. Acreditem isso era aos quatorze , quinze anos! O que seria a sétima e oitava série escolar.

Ao entrar no colegial, mudou -se de escola e foi para uma um pouco mais longe. Lá também conheceu mais pessoas e fez mais amizades, além de vivenciar novas experiências. A vida ia acontecendo de forma segura, pensava ela, tudo estava indo bem. A mãe havia se formado a pouco em direito e estava na cidade de São Paulo fazendo uma academia por conta de um concurso que havia prestado e passado. Então , imaginava que estava tudo em ordem na vida! Quem sabe uma ordem jamais experimentada e uma ordem segura! Morava numa boa casa, tinha ótimos amigos e era popular.

Certa vez, pensou em voz alta com uma de suas melhores amigas que elas gostariam que todos os meninos que estariam de olho nelas, ficassem numa fila e então elas iriam experimentando um por um até saber de quem se apaixonariam, vejam só a idéia! Não podiam perder tempo!

Aos domingos, frequentavam já um clube com uma brincadeira dançante que ia das 21h00 até as 0h00 – olhem só. Menores podiam frequentar nesses horários! Era bom. Era divertido e até mesmo infantil.

Uma vez um menino da cidade, que não fazia parte da turma de amigos dela, começou a persegui-la, seguindo-a de carro enquanto ela ia a pé da escola até a casa dela! Isso porque ele oferecia carona, mas como ela não aceitava ele ia ao lado num super , mega, blaster fusca branco, rebaixado com os numeros de placa 3034 se é que ela diz lembrar! Então esse garoto já estava enchendo o saco dela, assim pensava!

Ele começou a frequentar o clube das brincadeiras dançantes onde Malu ia aos domingos somente para ver se conseguia falar ou dançar com ela. Mas o que era divertido era ver o comportamento de algumas meninas no baile. Na hora das musicas animadas, elas ficavam lá se exibindo, dançando , cabelos compridos, todas tinham, pulavam de ombro em ombro. Passeavam os olhos nos meninos que iam secretamente escolhendo para dançar na hora da musica certa. Enquanto isso, os meninos, cochichando com outros, tentavam escolher suas futuras parceiras de dança. Ocorre que na hora da troca de ritmos, todas as meninas saiam correndo até o banheiro do clube para, retocar a maquiagem, para refrescar um pouco, imaginem dançar suada! Para sumir mesmo dos meninos! O que sempre acontecia, não tinha como evitar. Depois de muitas e muitas musicas, elas retornavam ao salão, fingindo que nem, aí pra ninguém e se faziam de rogadas, aguardando suas próximas vítimas!

Então esse menino que estaria “perseguindo “ a Malu, chegava nela, e dizia: _ Vamos dançar?

_ O quê? Tá louco! Com voce? Nunca! Nunquinha! Nem que fosse o último homem da face da terra!

Imaginem virem ela com aquele “maconheiro”! Imaginem a reputação!

Nossa, não sei o motivo de tanta raiva, mas o fato é que esse garoto era repudiado cruelmente pela Malu! Dá dó né! Dá dó? Pega pra voce, ela falava!

Mas olhem só o que o garoto fez. Malu estava com seus quinze anos, ele com dezenove, garoto playboy como falavam. Devia ser “maconheiro” porque era “filhinho de papai” não era bem quisto pela turma.

Sendo sumariamente rejeitado, ele não desistiu e passou a visitar a mãe dela enquanto Malu estaria na escola. Chegava lá, blá blá blá daqui, blá ,blá, blá de lá, deixava sempre um presentinho para Malu guardado pelas mãos de sua mãe! Olha que meigo! Malu chegava da escola e sempre teinha uma flor, ou uma lembrança, ou um bilhete para ela (bilhete guardado até hoje, diz ela), e lembra bem de um presente porque era lançamento no mercado: chandele! Vejam só , até isso ele deixou por lá. Chandele! Um tipo de danone achocolatado!

De tanto que insistiu Malu começou a frequentar um pouco a casa dele, conheceu a irmã, pais, mas ficava só nisso! Achava ela que ele deveria ter uma namorada, o cara era estranho, fez tanto, mas não chegava muito perto.

Uma vez ela estava ensaiando um inicio de namoro com ele quando ele disse que ela era um tesão! Então ela respondeu : _ahã.. em casa: _ mãe o que é tesão?

Passado uns meses desse lenga-lenga Malu estava apaixonada! Mas ainda nem estariam namorando! Cara estranho...acho que agora quer se vingar de tanta rejeição, pensava.

O ano passou assim, intenso...para quem se tem quinze anos...
Num mês de novembro sua mãe chegou para ela e disse que iriam se mudar daquela cidade! O quê? Não acreditou, não podia acreditar nisso! Não ouvia direito, não era com ela! Mas sim , vamos mudar de cidade . - disse a mãe.

_ Como? Por que?
    A mãe que estava em São Paulo fazendo a academia de seu concurso havia retornado e a chamaram para assumir um cargo em outra cidade do interior do estado.
      
    - Campinas? Que cidade é essa? Onde fica? Não podemos ficar? - Malu, em desespero, realmente não conseguia aceitar que iria sair dalí. É como se ela fosse fundadora de um partido e sua sede seu quartel-general era lá, como poderia sair? Com todos os eleitores devidamente conquistados? Como poderia começar tudo de novo em outro lugar que jamais ouvira falar? O mundo caiu. 
       
    Era novembro, final do ano, final das aulas, falou com os amigos sobre a noticia e todos ficaram em pranto.
    - O que fazer? Como fazer? Vamos falar com sua mãe para ver se ela fica . -ingenuidade dos amigos!
    Pois é, foram falar com a mãe e o padrasto dela, desejavam maiores informações, explicações e alguns foram....nada.
    Malu contou para o seu pseudo-namorado sobre a mudança. Ele também não se conformou e foi falar com sua mãe, que explicou que não havia jeito e forma de que ficassem naquela cidade.
    Malu, não conhecia a cidade onde iriam, mas já a odiava!
    Como poderia ir contra se não era ainda uma pessoa independente, nada?
    Quinze anos? Pela primeira vez, ficou com raiva de ter somente quinze anos! Queria poder ter poder de decidir seu destino! Mas era inútil e sua angústia só aumentava.
    A mudança estaria agendada para o inicio do proximo ano.

Que tristeza viver naqueles dias antecedentes! Tudo era motivo de despedida! Tudo cheirava a despedida. As festas, os bailinhos, as paqueras, tudo! Uma tristeza sem fim!
  
Malu tinha certeza de que sua vida nunca mais seria a mesma em qualquer outro lugar! Nunca!

De fato ela tinha razão!

_Como poderia suportar tudo isso sem nada, nada poder fazer? O pior é que não se desejava fazer nada errado, nada! Só desejava viver , pela primeira vez em sua vida, uma vida estável, sem sobressaltos, sem mudanças geográficas, fisicas, uma vida que estava vivendo!

Ela chegou nessa cidade de uma terrível mudança vinda de um outro estado Vinha da cidade de Campo Grande, hoje capital do Estado do Mato Grosso do Sul, que vinha de São Paulo, capital, que vinha de Presidente Prudente...que vinha de.... e ali parecia que iria ficar....para sempre!

Mas não! Não soube entender que o concurso significava a mudança. Senão creia-me, Malu teria feito algo se tivesse chance para tal.

Fato é que a mudança foi um dos momentos mais significantes na sua vida. A despedida foi uma tristeza só. Despedida aqui, despedida alí e muita solidão, muita dor e dor na alma.

Foi para Campinas/SP, foi a viagem mais dolorosa da sua vida. Olhando pelo vidro do carro vendo tudo passar, as ruas, casas, lojas que conhecia, a rodoviária, as pessoas que nem conhecia, mas imaginava que nunca mais iria ver aqueles semblantes....uma tristeza só. Nada , nada poderia fazer. Isso era a pior parte! Aceitar as mudanças que a vida impõe, pensava ela. Que revolta por isso! Que raiva!

Com absoluta certeza ela jamais poderia gostar da nova cidade, jamais, mesmo que tivesse gostado, jamais iria aceitar e admitir que gostou, mas justamente pelas condições que foi levada à mudar de cidade , creio que até hoje ela ainda guarda a mágoa de um lugar que lhe foi imposto!

Malu tinha um plano, pequeno, sequer saberia dizer se iria ter forças para cumpri-lo, mas tinha um plano!
Ao aproximar o inicio das aulas do ano em que já estava na nova cidade, Malu se preparava, nervosa, será que iria até o fim com seu plano?

As aulas se aproximavam, então sua mãe lhe mostrou a nova escola e o novo local de trabalho, que por sinal não ficava muito longe da escola.

No primeiro dia de aula, Malu arrumou suas “coisas” escolares , pegou uma bolsa da mãe, naquela época a bolsa era grande, mas não tanto como é hoje, e colocou algumas roupas dentro. Como sua mãe nem desconfiou? - Pensou. Nada. Não usava as bolsas dela. Mas nada falou! Não sei dizer o que cabia lá, nem o que colocou. Sua mãe lhe deixou na escola e foi ao trabalho.

_ Nossa! Que mausoléo! - pensou! É aqui ? Bom deixa eu ver onde estou.

Foi até um escritório dentro da escola e informou sobre a secretaria. Chegando lá, avisou a quem de direito quem ela era, que era aluna nova, que vinha transferida de escola, que a vaga era dela mas que estava ali avisando que iria faltar pelo menos os próximos vinte dias, mas que voltaria e tomaria o lugar dela. Feito isso, saiu ao portão!

Sinceramente ela não sabia onde estava, lugar, bairro, nada!

Ao sair , perguntou a primeira pessoa que passou onde ficava a rodoviária. Acreditem, ficava a alguns quarteirões dali. Deu para ir a pé!

Pensava: Meu Deus! Que sorte!

Chegando lá, comprou passagem para Tupã , e ao descer para aguardar o ônibus, por sorte, encontrou um amigo de Tupã que estava indo para lá. Foram juntos. E no caminho ela contou o que e como estava lá.

Ela , na verdade, estava fugindo de casa! Era isso!
Contou ao amigo que já estava tudo combinado em Tupã.
Já que ia mudar, ela ao menos desejava voltar para passar o carnaval lá. Seria seu primeiro carnaval em clube fechado , pulando a noite com amigos!
Os amigos ainda foram pedir para que a mãe a deixasse voltar ao menos no carnaval, e não se sabe o porque, fato é que tudo lhe fora negado.

Vendo a situação irreversível combinou com seus amigos sobre a sua possibilidade de ir escondida.

O garoto de que ela gostava, aquele garoto que de inicio a perseguia, mas que agora haviam ficado amigos, mas não namorados, também a ajudou.

De fato foi com ele que ela combinou tudo. Ele a convidou para passar o carnaval na casa dele, sua mãe negou, então eles resolveram fazer por conta própria!

Ele lhe deu dinheiro para as passagens já meses antes.

_ E se eu não conseguir, como faço para te devolver isso?

_ Não precisa, não tem problema, mas voce vai conseguir, vou ficar esperando!

Não tinha celular, não tinha internet. Não tinha computador, não tinha nada disso naquela época. Foi tudo combinado meses antes e nunca mais falou sobre o assunto , até a data marcada. Pois o combinado era que no dia que ela fosse embora ela ligaria, avisando -o.

O que ela fez antes, foi avisar as amigas e as respectivas mães das amigas que no carnaval estaria lá e ficaria com elas, na casa delas. As amigas e alguns amigos sabiam sobre a possível fuga, é evidente que os pais dos amigos não!

Antes disso, nos preparativos para a fuga, escreveu uma carta para a mãe e entregou nas mãos da irmã, fazendo promessas e jogando pragas mil para que a irmã somente entregasse aquela carta, já no momento em que ela estaria na cidade de Tupã, isso seria por volta de oito horas da noite. A mãe chegava do trabalho por volta de seis e meia, então o que falar até as oito sobre a irmã fujona?

_ Voce não fala nada, enrola, diz que estou na casa da Cris, enfim, se entregar a carta ou falar pra mamãe antes da hora eu te mato! Nunca mais falo com voce se não te matar, e se não te matar eu acabo com sua vida em vida! Enfim, prometeu fazer da vida da irmã a mais sinistra possivel. Como elas nunca se entenderam ela sabia que a irmã iria contar antes.

A irmã ficou estarrecida, mas prometeu cumprir o tratado.
A viagem durava muito tempo. Em torno de seis a sete horas. E durante esse tempo ela foi conversando com esse amigo, e foi vendo em sua mente sua vida naquele lugar que estava indo.

Engraçado é que a lembranças ficavam tristes, já sentia saudades de coisas e momentos que não mais teria. Tudo seria desintegrado, pensava. Foi uma viagem sofrida emocionalmente.

Ao chegar na rodoviária, ficou feliz ao ver alguns amigos e inclusive o garoto esperando por ela. Gritavam: Ela veio! Ela conseguiu! Foi uma felicidade. Nem lembrava mais da carta, da mãe, irmã, nada!

Foi até a casa de sua amiga, cumprimentou a todos e estavam lá conversando e felizes quando toca o telefone.

_ Malu ! - chamou a mãe da amiga. Telefone pra voce. Sua mãe!

Meu Deus, e agora, a mãe iria estragar tudo! Mas ela foi atender.De início, a mãe só gritava, feito louca, depois ela disse:

_ Voce leu minha carta? Voce tem certeza de que leu direito a minha carta? Porque nela eu falo a verdade.Tanto falo que disse que estaria aqui, deixei o telefone da casa onde estou e voce está me ligando agora. Não é mesmo?

Ela disse que recebeu a carta na hora combinada, que de início ficou verde, vermelha de raiva e tudo mais, que ligou para o dono da empresa de ônibus, que era amigo da familia, para dizer que iria processar o cara porque eles venderam passagem para menor de idade e tudo mais, onde já se viu? Disse ela ao proprietário que, coitado, ficou sem saber o que fazer também, mesmo porque a viagem já tinha acontecido. O proprietário disse que ia pegar o nome dos funcionários que estariam trabalhando naquela hora e iria demitir quem tivesse vendido a passagem.


Quando Malu soube desse fato pela mãe ao telefone, ela disse para não fazerem isso!

Voltou à carta.

_ Voce lembra do que escrevi? Perguntou à sua mãe. Então presta atenção mais uma vez. _ sim, ela falava assim com a mãe ao telefone – eu disse na carta para que confiasse em mim, disse onde e como iria ficar, disse que já resolvi as coisas na escola para que com isso não se preocupasse, disse que não iria engravidar aqui não, se esse é seu maior medo, enfim voce confia ou não em mim? Então me respeite, porque essa é a minha vida e tenho o direito de fazer nesse momento o que estou fazendo. Estou me dando esse direito por ser a filha que sempre fui. Eu pedi , voce não deixou , então resolvi vir por minha conta e risco! Voce não tinha o direito de me falar não, porque eu não mereço esse seu não! Ficarei aqui por uns quinze dias e depois volto. Ufa! Consegui falar – pensou!

A mãe da amiga que nada sabia ficou surpresa com o que ouvia!

Mas do outro lado da linha, uma mãe , talvez assumindo um mea culpa, sossegou e ficou mais tranquila depois da conversa. Desligou o telefone mais calma.

Para tranquilizar a todos, contou que estava tudo bem com a mãe. Ufa! Mais uma vez!

Dalí um tempo, ainda , com todos na casa da amiga, aparece o pai do garoto lá. Nossa Senhora, agora ferrou! Pensou!

Mas o pai do garoto , era colega de classe da mãe da Malu, fizeram faculdade juntos, aliás o pai do garoto era o dono da faculdade e o dono do clube onde ela iria pular carnaval. Ele foi lá e disse:

_ Malu , sua mãe me ligou e contou o que voces dois fizeram. Mas não tem problema – Malu até acha que ele curtiu, gostou da daquela estória porque suas palavras não foram ditas de forma a repreender, mas sim em tom de diversão e alegria, com se estivesse orgulhoso dos dois!

_ Eu falei para sua mãe não se preocupar, que iria cuidar de voce enquanto estiver aqui. Certo? Voce chama quem voce quiser , e pode levar seus amigos ao clube para pular carnaval de graça. Ao chegar lá manda me chamar que eu coloco todos para dentro!

Êbaaaaaaaaa! Alegria geral!

Foi o carnaval mais feliz e depois o mais triste por ter sido o mais feliz da vida da Malu.
A mãe guarda a carta até hoje!
Malu vai recuperar o documento!


terça-feira, 1 de março de 2011

DEPOIMENTO -NU E CRU -

Me pediram que eu escrevesse um depoimento sobre minha experiência em alienação parental. Como não redigi nenhum texto nesse sentido , aproveitando essa tarde chuvosa em São Paulo, é o que decidi fazer.

Há tempos venho pensando sobre o assunto e já havia dito antes que um livro iria escrever, mas enquanto esse livro não vem, serve o presente, além do blog que atualmente funciona como uma catarse emocional, para depois juntar tudo e quem sabe assim sai o livro.

Hoje estou com 45 anos, faço 46 em julho, e desde que me conheço por gente, venho experimentando toda sorte de sentimentos e sensações “erradas” e por não conseguir identificá-las é que sempre, que pude, procurei ajuda de psicólogos, imaginava que ao menos esses profissionais pudessem me ajudar e então me fazer identificar os motivos de tamanha confusão de emoções que não sabia identificar e que me faziam muito mal.
Desde cedo, experimentei toda a sorte de emoções negativas que se pode sentir, dentro de uma família totalmente desmoronada, desestruturada pela separação dos pais de forma traumática, abrupta e violenta.
Conta, minha mãe que aos 5 ou 7 anos, não lembro eu tinha um tique nervoso, meus olhos teimavam em piscar sem parar, daí veio meu apelido “pisca-pisca”, e conta ela também que logo depois da separação de meus pais fui a uma psicóloga, coisa que nem lembro , devo ter deletado....
Mas o fato é que meus pais se separaram de forma violenta e como tudo na minha vida iria mais tarde se tornar dramático e fatalista, vi que o inicio desse que eu chamo “kit-desgraça” deu-se na infância.
Não sei direito o que vi e o que vivi, o que presenciei naquela época, mas o fato é que cresci , desde tenra idade até meus 17 anos, sem ter meu pai por perto e acreditando que meu pai se tratava de um monstro de inigualável maldade.
Não me lembro direito os motivos que fizeram com que meu pai se afastasse de suas filhas, tenho uma irmã mais nova uns 2 anos e 9 meses! O fato é que meus pais sumiram da minha vida! Não! Minha mãe estava comigo, mas ela de certa forma sumiu desde a separação, da minha vida, tornando-se omissa em quase tudo.
Um fato que lembro bem é que essa alienação parental fora praticada durante toda minha infância, e inicio de adolescência pela família inteira de minha mãe. Minha avó era viúva, e talvez a mais responsável pela alienação parental. Naquela época ela nos sustentava financeiramente e esse fato sempre faz com que o mais poderoso , aquele que tem o poder através do dinheiro imponha aos seus súditos algumas normas de comportamento e regras ditas e não ditas. Pois bem: uma regra dita e sempre dita que ouvi, foi que meu pai, que era uma pessoa do mal, monstro do mal, e levava consigo todo um rol de predicativos que duvido encontrar em um dicionário vigente!
Os homens, na mente de minha avó nos faziam de “privadas” defecavam e sumiam!

Fato é que minhas emoções se tornaram confusas, as vezes devo ser assim ainda....mas eu não sabia dizer se gostava dele ou não, eu lembro que quando tinha uns 9 anos, na época da recém-separação eu não podia escutar uma música chamada “Naquela Mesa” , essa musica me causava uma angústia incomensurável e me perturbava de tal modo que devia me sentir a criatura mais solitária e incompreendida desse mundo. Chorava muito e nem sabia os motivos. Olha só a confusão de sentimentos: Eu chorava pela música que dizia sobre a falta de um pai “naquela mesa” na mesa da minha casa , e não entendia o motivo do choro já que renegara meu pai junto de todos na família, afinal ele era pessoa mal vista, indesejável e tratava-se de um verdadeiro monstro. Então como eu poderia explicar a mim mesma essa sensação de saudade de angústia por alguém que não merecia meu amor? E além disso , não me aceitara como filha, já que afastara-se de mim e de minha irmã sem nenhum motivo – ao menos para as filhas - ? A rejeição, a angústia, a infelicidade, a cumplicidade desenvolvida ao lado de minha mãe me confundia por inteiro!
Minha mãe fala até hoje que eu , aos 9 anos disse a ela que ela poderia se separar do meu pai pois estaria sempre ao lado dela estando ela certa ou errada! Acreditem, eu falei isso! (eu lembro de mim falando essa frase, acreditem) E foi com isso que cresci. No comprometimento que fiz a minha mãe em juramento infantil de que estando ela certa ou errada a apoiaria até o fim....fim esse que me custou uma vida, a minha vida!

Após a separação, aos nove anos, morávamos num estado longe de São Paulo, morava no Mato Grosso, naquela época o estado do Mato Grosso era apenas um. Anos 70. Minha avó veio morar conosco para apoiar ($$$) minha mãe, que era a primeira mulher “desquitada” da família, vejam só, além de tudo ainda tinha esse preconceito! Naquela época minha mãe começou a cursar faculdade de direito.

Minha família era composta de : uma avó autoritária , nervosa, perturbada, uma mãe confusa e incapaz de lutar por si mesma, uma irmã até então sem sentimentos, gelada e sem compartilhar seus pensamentos, nunca chorava na nossa frente, acho até que nunca chorava! Além de uma empregada doméstica que conviveu conosco por cinco anos. Era essa minha única  familia! Estava longe de todos, distante de tudo e de mim mesma. Não havia familiares por perto, estava longe de tudo..
.
Nunca aprendi, nunca me ensinaram a ter amor-próprio, auto estima, confiança, fé, nada, nenhuma noção de nenhuma moralidade, educação, nada! Cresci por mim mesma, eu e minha irmã.
De fato em algum momento no final da infância e inicio da adolescência percebia que não fazia mais parte daquela família. Meu pai sumira de vez, desapareceu por completo, feito mágica colocou-se um “pir lim pim pim” na minha vida e de minha irmã e sumiu, apesar de sabermos sempre por onde andava, porque sempre residiu no mesmo lugar...
Esse sumiço , essa desintegração total familiar me fez acreditar que não era pessoa capaz de receber afeto de ninguém, nem tampouco dar afeto! Isso em relação aos relacionamentos entre homem e mulher. Eu amava minha mãe, era um mito pra mim, mas foi assim até meus dezessete anos, quando em um ato de revolta acabei brigando com ela e até disse que ela poderia esquecer de mim como filha e em um ato de desespero e solidão tentei cortar os laços maternais, nessa doce ilusão de que isso me traria de volta uma pessoa que não era eu, mas que queria ser alguém, alguém amado por alguém e de preferencia quem sabe, amado pelos próprios pais...descobri que os defeitos, a própria educação de minha mãe não permitiram que ela descobrisse como dar e receber afeto de filhos, afinal dizia ela, que não teve afeto dos pais então não saberia dar o que não teve....então a conclusão de minha vida era que eu nunca havia recebido afeto de ninguém, mãe ausente, sempre confusa e pai ausente e sempre um monstro! Ambos vivos, bem vivos e perto, tão perto e tão longe!
Quem poderia me amar, quem poderia acreditar em mim como pessoa?
Claro que nem eu mesma poderia sentir isso!
Somos consequência desse primeiro mundo na qual vivemos e crescemos, e aí já estava com dezessete!
Como disse acima, desde o inicio de minha adolescência percebia que não fazia mais parte daquela família, por não compactuar com nada que ali dentro se falava,  vivia,  sentia, não compactuava com nenhum valor moral, amoral e imoral que ali era vivido...o som da minha família me perturbava...as músicas da minha casa me perturbavam....a televisão da minha casa me perturbava...o cheiro, meu quarto, então aquilo ali não era meu lugar.
Percebem? Não tinha mesmo família, nem teto, minha sorte mesmo é que não descambei ao vicio de drogas , não fui pra rua, não me prostitui, não me envolvi com nada que colocasse minha vida em risco, disso tenho orgulho de mim...nem sei o que me guiava naquela época...
Só sei que depois que fugi de casa – a estória está no meu blog – depois que fui morar em Campinas/SP – fiquei por dois longos anos em depressão, engordei e era o auge da minha adolescência....sempre só. Minha mãe não percebia ou não olhava pra mim...durante esse período estava no colegial, estudava de manhã e quando ia à aula, dormia a tarde toda, e ficava insone nas madrugadas campineiras. Minha mãe morava com uma pessoa, meu padrasto naquela época também vivia o mundo dele, ninguém nunca olhara para mim e para minha irmã. Por mais que ela tentasse chamar a atenção nunca olharam de fato! Ela sempre deu mais trabalho, porque eu era quieta, conseguia, não sei como seguir minha vida e desabafava em meus diários, não em comportamentos suicidas, oportunistas, e agressivos como minha irmã.

O fato é que minha alma ansiando por ajuda, sempre soube que se não poderia contar com mais ninguém, creio que decidi em algum momento que eu tinha que ter ao menos eu mesma!
Talvez seja por isso é que consegui seguir nos estudos e apesar de ter faltado tanto na época do colegial, estar morando num lugar indesejado por mim, não ter amigos, estar sempre só, quando conseguia me concentrar um pouco, conseguia ter vontade de estudar....isso me salvou. E apesar de ter tido tantas mudanças geográficas na minha vida, pois que eu me lembro devo ter mudado de casa e de cidade por mais de quatorze vezes, andei por todo o interior do estado de São Paulo, pelo Mato Grosso , na cidade de São Paulo,  e com isso mudava de escolas por todo o momento, pior que cigano, imagino, teve ano que mudei de escola duas vezes, ou seja iniciava o ano em uma escola e em agosto estava em outra! Não sei mesmo como não sucumbi e não repeti nenhum ano e nem fui parar numa febem da vida! Ninguém pensava nas crianças. Naquela época era pior ainda! As crianças eram joguetes mesmo! Ninguém pensava nelas...ou seja no meu bem estar e no de minha irmã!

O que foi bom, no meu caso, é que dentro de mim sabia que faltava algo e me despi de orgulho e fui me resgatar. Aos quinze, quando fugi de casa – vejam no blog - descobri que queria muito morar sozinha, e quem mais me ajudou na vida? Minha avó, que hoje vejo como minha mãe. Meus avós. Minha avó se casou novamente com um senhor de nome Gentil que o considero mesmo como família e avô.
Esses dois me apoiaram e me ajudaram financeiramente a morar sozinha. Me custearam a faculdade de direito. E imaginem onde fui morar e estudar? Tentem imaginar pra onde fui morar sozinha? Sim, na mesma cidade que meu pai residia e ainda reside, na mesma cidade onde nasci. Retornei às origens! Não tinha mais como não seguir esse instinto, esse desejo, consciente ou inconsciente!
Ironicamente o universo me prega essa peça, ironicamente? Não acredito nisso, acredito que naquela época e ainda hoje sempre estive à procura de mim, de minhas raízes, das raízes que me foram arrancadas feito aborto, que me foram impostas feito estupro! Perdi todo o contato com minha família por parte de pai, onde tinha primos legítimos, já que minha mãe é filha única, mas pela família de meu pai, ele com mais sete irmãos, me negaram tudo! Me negaram crescer ao lado de meus avós paternos, tios e tias, primos e primas que hoje os vejo através de rede sociais pela internet, vínculos? O tempo passou...

E por estar à procura de mim mesma fui morar na minha cidade natal, onde aos poucos fui me aproximando de meu pai e com muita timidez, medo e sofrimento fui chegando perto. Primeiro ligava no escritório onde ele trabalhava e dizia : _ posso passar ai? Ele, do lado dele devia ter medo de mim também , pois não sabia como estava meu estado de espírito, devia pensar: o que essa menina quer fazer aqui depois de tantos anos? Vai brigar na frente de todos? Vai me xingar? Não sei, nunca falei com ele sobre o assunto, mas acredito que devia pensar assim. Mas o fato é que aos dezessete comecei a resgatar um pouco , não do meu passado, mas daquela pessoa que estava na minha certidão de nascimento como sendo meu pai. Ligava, e cheia de medos ia visitá-lo em seu ambiente de trabalho. Naquela época meu pai trabalhava como contador de um tio meu. Então até me aproximei um pouco , mas um pouquinho só desses primos...
Fazia faculdade na cidade, morava sozinha, e comecei a trabalhar...aos dezessete anos...tenho orgulho de mim.
Essa aproximação foi se estreitando, e então quando me ví, estava almoçando na casa de meu pai, junto de minhas irmãs e madrasta quase todos os dias! E adorava a comida dessa mulher! Fiquei assim , durante a faculdade, ia comer lá...saia do trabalho, almoçava lá e retornava ao trabalho...assim conquistei essa família, e até hoje estamos aqui! E por mistérios do universo, elas estão morando ao lado de minha casa, apenas 50 km nos separam.
Depois de 45 anos sem natal com meu pai, o ano de 2010 reservou para mim esse dia, passamos juntos, eu , ele, minha filha, meu marido, minha madrasta, minhas irmãs e meus sobrinhos! Foi maravilhoso e emocionante! - (filmei - anotei e vou postar depois no blog quando a estória chegar nos dias atuais)

Meus avós sempre ajudando e minha mãe sempre longe...hoje não julgo mais, mas um fato preciso dizer para às mães em geral que foram e ainda são muito vaidosas, muito alheias à educação dos filhos e muito egoístas....cuidado: cuidado porque a vida vai dizer onde está a sua falta na maternidade. Não se brinca com maternidade, não se faz pouco caso da paternidade, pois essa é a única missão de que temos consciência na vida!

Essa fase me ajudou a construir pontes com meu pai e aos poucos a ir conhecendo-o de verdade, claro que isso gerou e ainda gera inimizades, ciúmes pelo lado de minha mãe e de minha irmã, que deseja a morte dele. Ela fala isso sempre que pode, ainda o chama de verme e de tantos outros nomes que não posso ficar repetindo....não tenho mais nem dó dela, estou aprendendo a sentir compaixão, creio que deve ser esse o melhor sentimento...

Estou no meu terceiro casamento e acho que já não quero mais...quero ficar sozinha, quero viver sozinha...nunca gostei, nunca amei de fato nenhum homem, mas ...

O pai da minha filha...é...o pai da minha linda filha... fiquei por longos 12 anos e quase morri, escolhi muito mal, tive todos os infortúnios que poderia viver num relacionamento.
Depois descobri que nunca o amei de fato, vivi doze anos com uma pessoa que sequer gostava, eu descobri que eu tinha uma forte ilusão, a ilusão que me pegava de fato e me grudava nele, a ilusão de que finalmente tinha uma família e que ele era o pai de minha filha e que iríamos ficar juntos numa "pseudo-família-segura" que nunca existiu de fato. Quando percebi, estava sustentando emocionalmente e financeiramente esse relacionamento...vivi nessa ilusão criada por mim mesma por doze longos anos e quando me dei conta, vi o grande teatro na qual estava vivendo, e a custo de minha saúde física e mental. Desenvolvi todas as doenças que se pode somatizar a partir de então. Fora as da infância... Ainda hoje, após oito anos de separação tenho produção em excesso de histamina, o que me dá urticária , herdada do descontrole emocional vivido naquela época. Minha vida totalmente fora do eixo! Caos total! Hoje já foi objeto de análise e sinceramente já o perdoei e já me perdoei por isso, e é só por isso que escrevo sobre o assunto, caso contrário nada poderia dizer, sob pena de sofrer tudo, tudo mesmo novamente....não dizem que recordar é viver? É fato , mas é fato que hoje posso recordar porque já saí de mim, hoje não mais a Maria Lucia, porque ela cresceu junto comigo! Se não tivesse resolvido na seara das emoções e da alma todos os sofrimentos, angústias, desamor. solidão, depressão,  não seria possível escrever.
Fato é que, por não ter nenhuma auto-estima, e por questões mais profundas que o texto permite nesse tempo, (estou no depoimento que me foi solicitado hoje) escolhi mal, vivi mal , mas tive uma filha, e pensava em nunca ter filhos! Balela! Minha linda filha, hoje com 16 anos me ensina a viver! E aprendo com ela a não cometer os mesmos erros que fizeram comigo, afinal motivos para praticar alienação parental tive de sobra, mas eu consegui ver isso e hoje ela tem um relacionamento com o pai que está presente na vida dela. Apesar de toda a destruição emocional , física e financeira, doenças que somatizei, depressão que experimentei, enfim...tudo o que experimentei ao lado dele, eu devo deixá-la livre, permitir que ela conheça o pai, que ela julgue por si mesma! Afinal ele era meu marido, não dela! Ela é saudável nisso, graças a minha percepção em não misturar as vidas! Graças a minha saúde mental , hoje! Isso também demorou, não foi da noite para o dia, mas se esse caos demorou mais de 40 anos para se instalar, essa desintoxicação , posso assim dizer, está vindo rápido....de dois anos para cá! Me sinto orgulhosa de mim mesma. Minha alma finalmente agradece estar sendo ouvida!

Olhem, só para deixar algo aqui....o pai da minha filha deu motivos, muitos e inúmeros motivos, dela não o querer mais por perto , deu motivos a ela para que ela o rejeitasse. E é claro, para que eu praticasse de mão cheia a alienação parental mais majestosa que se podia fazer! Desde que ela nasceu, analisando os fatos - (que deverão ser narrados aqui também), motivos nunca faltaram, mas no ano passado descobrimos , ela me contou finalmente, chantagens dele para ela terríveis além de outras estórias, o que fiz? Pedi a ele um tempo de afastamento, um tempo a fim de que minha filha pudesse "digerir" essa estória, não saberia dizer quanto tempo, mas o tempo suficiente dela poder ter coragem de se abrir com ele....ela estava mal por conta de algumas coisas que aconteceram...teve inicio de depressão, síndrome do pânico, quase repetiu na escola, crise de ansiedade de pararmos no hospital por conta de taquicardias, mas o que fiz? Disse a ela que nisso era PHD e que eu mesma iria tratá-la até um certo ponto, caso ela não melhorasse iríamos partir para a psiquiatria, mas então ficamos do mês março até setembro de 2010 nesse tratamento emocional, físico e psíquico. Tive que sequestrar minha filha que estava indo morar com o pai num outro estado....sim, sequestrei-a de volta , essa estória é para um outro momento! Lutamos juntas e nessa luta ela aprendeu a ser mais forte que tudo isso, e quando ela conseguiu , realmente falar, se manifestar ao pai, porque antes ela travava com ele...mas quando finalmente se soltou, isso se deu somente em agosto ela então desabafou com ele e disse que o perdoava, mas que aquele tempo tinha sido necessário. No final ela ficou só dois meses sem falar com ele....eu cuidei direitinho e tenho orgulho disso. Nunca interceptei nada, nunca interrompi ligações, nada. Minha filha tem a privacidade dela e sempre teve! Só disse ao pai dela para esperar um pouco...depois ele pediu desculpas à filha e estão nessa sequência da vida....passaram final de ano juntos e ela segue no perdão, quanto a ele, a questão é dele...e fico feliz por minha filha ter aprendido dessa forma, sem precisar de remédios que só prejudicam e nos fazem "dormir para a realidade" e lutando consigo mesma, aprendendo a se conhecer e respeitar seus limites. Ela teve medo de muitas coisas, mas superou e hoje está forte emocionalmente e sabem mais? Vi o pai dela agora em janeiro quando fui pegá-la de volta das férias, nem sabia que iria vê-lo pois não o havia visto fazia mais de um ano, quando as coisas aconteceram....então ele apareceu lá para despedir da filha e eu depois fiquei surpresa comigo mesma, pois o cumprimentei com beijinhos e tudo e nada....nada senti....não senti raiva...nem dor....nem culpa...nada....aprendi a respeitar tudo isso e só me dei conta desse fato já depois em casa! Feliz e surpresa pela rapidez de meu perdão de dentro mesmo! Fiquei feliz , por tudo isso! mesmo!

Por conta desse histórico emocional, estou hoje aqui, num recomeço de tudo, de vida de tudo!

Graças a Deus encontrei uma excelente profissional na área da psicologia que há dois anos me ajuda em muito e me fez entender o perdão! Essa profissional me salvou! Importante dizer isso, porque eu procurei muito tempo por um profissional que pudesse de fato me auxiliar, de fato mesmo, que não fosse obsoleto como tantos outros que conheci, mas o universo conspirou a meu favor e agora está saindo tudo certo, mas só hoje! Aos 45 anos!

Tem mais um detalhe importante:
Faz oito anos que estou em São Paulo, e quando vim para essa cidade uma pessoa que gosto muito hoje, em entrevista, falou que iria me chamar de Dra. Georgetti! Pasmei! Morri! Surtei! Afinal o Georgetti ainda estava lá, não totalmente resolvido, não perdoado de fato! Fiquei cinco meses ouvindo as pessoas me chamarem de Georgetti e não estava gostando, não me acostumava...isso estava sendo ruim...afinal vivi uma vida sendo a Lu, agora a Georgetti? Por mais ironia ainda o cartão dessa empresa veio assim: Dra Georgetti , é pra rir não é mesmo?! Pois bem, e foi somente depois de cinco meses que aprendi a incorporar meu nome e acabei esquecendo, daí comecei a me orgulhar dele e comentei o fato ao meu pai numa ligação e em tom de orgulho disse: _Está vendo? Aqui em São Paulo sou a Dra. Georgetti! Minha mãe chegou a falar que esse nome era ruim, dava azar...fiquei triste em ouvir, afinal já estava velha demais para continuar isso tudo, mas disse a ela que era assim que era meu nome e pronto! E também reforcei que a pessoa quem decidiu me rebatizar dessa forma disse ter gostado muito do meu nome que era um bom nome além de ser muito forte! Então ficou assim até hoje. Aqui em São Paulo sou a Georgetti para uns e Dra. Georgetti para outros. Uma nova vida! Um novo nome!

Depois, por algumas razões da vida, ainda fiquei afastada de meu pai por longos treze anos, sem nenhum contato! E por desígnios do universo, depois de 45 anos tive um natal em família, tive um natal com o Sr. Georgetti, tive um natal com meu pai! Vou contar melhor no blog.

O tempo passou e aprendi que não tinha mais o direito de julgar meus pais, por isso a declaração de amor que fiz no meu blog! Minha libertação veio através do perdão, através desse amor sufocado durante tantos anos e que consegui , ao menos por uns dias, durante o natal de 2010, manifestar ao meu pai, e durante o ano todo de 2010 fui manifestando à minha mãe. Nesse perdão interno, me livrei desse pesado passado e leve feito pluma minha alma está, e com isso posso escutar mais a minha voz interior e aprender a me gostar, aprender que meu aprendizado veio por esse caminho, e que infelizmente nem todos conseguem entender isso. Seja entender-me como pessoa disposta a me expor aqui, ou seja até mesmo por eu ser quem sou hoje!

Quero dizer algo muito importante: Não estou preocupada no julgamento que possam fazer a respeito da minha pessoa, como disse antes, estou leve, minha alma aprendeu que ela não guarda rancor, nem mágoa porque é alma, se fosse meu ego, aí sim ainda estaria encrencada, e como estou em alma, não me incomoda o julgamento do ego de quem ainda está nele, afinal aprendi a respeitar isso também, cada um a seu tempo nas suas descobertas no seu caminho de vida! Aprendi que posso respeitar e não julgar , apenas isso e isso faz toda a diferença nessa vida!
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Fiquei muito feliz, o ano passado numa palestra que assistia na AASP em São Paulo sobre alienação parental, quando assustada soube que apenas um percentual de 5% das crianças que foram abusadas moralmente, emocionalmente nesse sentido se recuperam. Fiquei  feliz porque me incluí nesse percentual tão baixo! Outro estudo que me chocou foi que comparam e equiparam na seara de emoções e sofrimentos a alienação parental com o mesmo teor de dor e sofrimento de abuso sexual. Por essa razão fico mais feliz ainda por ter conseguido passar por tudo isso e poder estar aqui na minha exposiçao e quem sabe poder ajudar alguém. Não tenho outras pretensões, exceto e somente meu livro. Que Deus abençoe a todas as familias para que consigam se olharem nos espelhos das almas delas mesmas e com humildade e muito amor, salvarem-se uns aos outros. Tudo nasce lá dentro, nosso microcosmo primeiro! Abçs a todos!

São Paulo, 01 de março de 2011

Lucilene Aparecida Georgetti

lugeorgetti@yahoo.com.br

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