CAPITULO I - FUGINDO DE CASA -
Primeira parte – capitulo I -
Quando se tem quinze anos, você pode dizer que tem quinze anos e pode fazer o que desejar porque você tem quinze anos. Malu com quinze anos, morava numa cidade que considerava “a cidade” maravilhosa, pois dentro dela havia tudo o que uma adolescente deseja. Estava no inicio e promissor tempo de sua adolescência. Era uma linda garota, desejada e estava conquistando amigos por todos os lados. Ou seja, se achava o último biscoito do pacote, ela e uma de suas melhores amigas,elas simplesmente se achavam.
Morava numa pequena e tranquila cidade do interior, devia haver uns 60 mil habitantes naquela época. Cidade onde , talvez, até hoje ainda existam tribos indígenas, por essa razão o nome da cidade é Tupâ, fica no interior do estado de São Paulo.
Morava a três quadras da escola que estudava, na mesma rua, o que para ela era realmente uma benção. Não precisava que ninguém a levasse a escola, e poderia dormir até mais tarde, acordando sempre no último minuto do tempo necessário para se arrumar e sair correndo. Era um tempo bom, pensava, apesar da solidão, uma solidão estranha que sempre a acompanhara, ela simplesmente estava amando a cidade e seus amigos.
Suas aulas de educação física eram sempre no período da manhã, coisa que ela detestava, alías qual adolescente gosta de acordar cedo? Já dormia com o uniforme azul marinho parecido com o da marca adidas, com aquelas faixas ao lado, obviamente sem o nome da marca, apenas o uniforme que lembrava em muito esse tipo de agasalho que ficou tão famoso e virou objeto de desejo de consumo. Pois bem, já dormia de uniforme para não perder tempo ao acordar. E por ser a rua da sua casa, caminho da escola, todos as manhãs, passavam por lá outros colegas que também iam a pé até a escola e gritavam pela janela de seu quarto , que era justamente a janela que dava para a calçada, gritavam: _ Maguary, maguary é o sucooo! - isso porque Malu , apesar de ter já seus quinze anos, ainda levava à aula, uma lancheira para seus lanches na hora do recreio – hoje intervalo – e dentro dessa lancheira, sem nenhuma vergonha, todos os demais obviamente deveriam ter vergonha de carregar aquele negócio em idade que julgavam ser tão avançada, levava suco maguary (sem propaganda, não está recebendo nada por isso, apenas trata de uma lembrança dela mesmo) e levava seu mais delicioso leite condensado caramelizado com flocos crocantes e o puro chocolate nestlé: chokito! (outra lembrança) Era o chocolate mais delicioso do mundo para ela. O chato dessa menina era que ela muitas vezes era chata mesmo! Mostrava para todos o lanche, ou então todos queriam ver sempre o que ela estaria levando para aquele dia, ela mostrava, mas na hora do recreio ela sumia e comia tudo sozinha, para depois retornar de seu esconderijo sem nada e ainda chorar algo mais para os outros que bravos ficavam por ela não ter dividido nada!
Malu é gulosa até hoje...
O fato é que essa época era boa, vivia uma fase boa, pensava...
Quando fez seus quatorze anos, o pessoal da escola se dispôs a fazer uma brincadeira dançante no fundo de sua casa, no quintal, e nesse tempo todos ajudaram. Os meninos montaram no fundo da casa, uma boate ao ar livre, com direito a globo , luzes coloridas, daquelas bem bregas mesmo, de casa noturna xexelenta, mas que no final era isso mesmo que os jovens daquele tempo faziam. Então a festa foi um sucesso! E ainda lembra da roupa que usava. Um vestido branco, lindo e pela primeira vez o salto alto! Ahhhh o salto alto. Caracterizando para ela a transição de idades e fases, crendo que por saber usar um salto alto já era mulher! Essa época achava ser a melhor, talvez tivesse sido mesmo.
As descobertas de novas amizades, o despertar para os namorinhos, as festinhas dos quintais, e pasmem! A turma ainda brincava na rua! Brincavam de queimada na rua até esquecer da janta. Isso com quatorze, quinze anos. Brincava de pique-salva, era muito divertido. Os amigos eram vizinhos e colegas da escola. Fechavam uma rua paralela para brincar de bets. Alguém sabe o que é isso? É um jogo de taco e bola. Divide-se a rua e em cada ponta ficava uma pessoa com um taco, um de frente para o outro, reservando uma certa distância, acredito que uns 8 metros, e tendo ao fundo, atrás da pessoa que ficava com o taco, uma outra com uma bola na mão. Parecia um pedaço de jogo de beisebol. A pessoa com a bola na mão , mirava o que ficava em sua frente, alguns metros adiante para arremessar a bola e não permitir que aquele que estava com o taco na mão conseguisse rebater. Então ela arremessava a bola e se o rebatedor não conseguisse rebater a bola que ia longe, fazendo que que o arremessador daquele ponto corresse atrás da bola até trazê-la de volta, e enquanto corria ficava o arremessador que jogou a bola contando em numeros o tempo demorado, esses numeros significavam os pontos ganhos. E assim ia. Queimada, taco e pique e salva era a brincadeira mais bacana do mundo para ela. Pique e salva era um esconde-esconde mais sofisticado! Os amigos se reuniam na rua mesmo , dividiam-se em grupos e um ia procurar o outro. Isso fazia com que todos entrassem nas casas de todo mundo pelo bairro , pelos quintais se escondendo. Coisa absurda nos dias de hoje! Era realmente muito divertido para ela e seus amigos. Acreditem isso era aos quatorze , quinze anos! O que seria a sétima e oitava série escolar.
Ao entrar no colegial, mudou -se de escola e foi para uma um pouco mais longe. Lá também conheceu mais pessoas e fez mais amizades, além de vivenciar novas experiências. A vida ia acontecendo de forma segura, pensava ela, tudo estava indo bem. A mãe havia se formado a pouco em direito e estava na cidade de São Paulo fazendo uma academia por conta de um concurso que havia prestado e passado. Então , imaginava que estava tudo em ordem na vida! Quem sabe uma ordem jamais experimentada e uma ordem segura! Morava numa boa casa, tinha ótimos amigos e era popular.
Certa vez, pensou em voz alta com uma de suas melhores amigas que elas gostariam que todos os meninos que estariam de olho nelas, ficassem numa fila e então elas iriam experimentando um por um até saber de quem se apaixonariam, vejam só a idéia! Não podiam perder tempo!
Aos domingos, frequentavam já um clube com uma brincadeira dançante que ia das 21h00 até as 0h00 – olhem só. Menores podiam frequentar nesses horários! Era bom. Era divertido e até mesmo infantil.
Uma vez um menino da cidade, que não fazia parte da turma de amigos dela, começou a persegui-la, seguindo-a de carro enquanto ela ia a pé da escola até a casa dela! Isso porque ele oferecia carona, mas como ela não aceitava ele ia ao lado num super , mega, blaster fusca branco, rebaixado com os numeros de placa 3034 se é que ela diz lembrar! Então esse garoto já estava enchendo o saco dela, assim pensava!
Ele começou a frequentar o clube das brincadeiras dançantes onde Malu ia aos domingos somente para ver se conseguia falar ou dançar com ela. Mas o que era divertido era ver o comportamento de algumas meninas no baile. Na hora das musicas animadas, elas ficavam lá se exibindo, dançando , cabelos compridos, todas tinham, pulavam de ombro em ombro. Passeavam os olhos nos meninos que iam secretamente escolhendo para dançar na hora da musica certa. Enquanto isso, os meninos, cochichando com outros, tentavam escolher suas futuras parceiras de dança. Ocorre que na hora da troca de ritmos, todas as meninas saiam correndo até o banheiro do clube para, retocar a maquiagem, para refrescar um pouco, imaginem dançar suada! Para sumir mesmo dos meninos! O que sempre acontecia, não tinha como evitar. Depois de muitas e muitas musicas, elas retornavam ao salão, fingindo que nem, aí pra ninguém e se faziam de rogadas, aguardando suas próximas vítimas!
Então esse menino que estaria “perseguindo “ a Malu, chegava nela, e dizia: _ Vamos dançar?
_ O quê? Tá louco! Com voce? Nunca! Nunquinha! Nem que fosse o último homem da face da terra!
Imaginem virem ela com aquele “maconheiro”! Imaginem a reputação!
Nossa, não sei o motivo de tanta raiva, mas o fato é que esse garoto era repudiado cruelmente pela Malu! Dá dó né! Dá dó? Pega pra voce, ela falava!
Mas olhem só o que o garoto fez. Malu estava com seus quinze anos, ele com dezenove, garoto playboy como falavam. Devia ser “maconheiro” porque era “filhinho de papai” não era bem quisto pela turma.
Sendo sumariamente rejeitado, ele não desistiu e passou a visitar a mãe dela enquanto Malu estaria na escola. Chegava lá, blá blá blá daqui, blá ,blá, blá de lá, deixava sempre um presentinho para Malu guardado pelas mãos de sua mãe! Olha que meigo! Malu chegava da escola e sempre teinha uma flor, ou uma lembrança, ou um bilhete para ela (bilhete guardado até hoje, diz ela), e lembra bem de um presente porque era lançamento no mercado: chandele! Vejam só , até isso ele deixou por lá. Chandele! Um tipo de danone achocolatado!
De tanto que insistiu Malu começou a frequentar um pouco a casa dele, conheceu a irmã, pais, mas ficava só nisso! Achava ela que ele deveria ter uma namorada, o cara era estranho, fez tanto, mas não chegava muito perto.
Uma vez ela estava ensaiando um inicio de namoro com ele quando ele disse que ela era um tesão! Então ela respondeu : _ahã.. em casa: _ mãe o que é tesão?
Passado uns meses desse lenga-lenga Malu estava apaixonada! Mas ainda nem estariam namorando! Cara estranho...acho que agora quer se vingar de tanta rejeição, pensava.
O ano passou assim, intenso...para quem se tem quinze anos...
Num mês de novembro sua mãe chegou para ela e disse que iriam se mudar daquela cidade! O quê? Não acreditou, não podia acreditar nisso! Não ouvia direito, não era com ela! Mas sim , vamos mudar de cidade . - disse a mãe.
_ Como? Por que?
A mãe que estava em São Paulo fazendo a academia de seu concurso havia retornado e a chamaram para assumir um cargo em outra cidade do interior do estado.
- Campinas? Que cidade é essa? Onde fica? Não podemos ficar? - Malu, em desespero, realmente não conseguia aceitar que iria sair dalí. É como se ela fosse fundadora de um partido e sua sede seu quartel-general era lá, como poderia sair? Com todos os eleitores devidamente conquistados? Como poderia começar tudo de novo em outro lugar que jamais ouvira falar? O mundo caiu.
Era novembro, final do ano, final das aulas, falou com os amigos sobre a noticia e todos ficaram em pranto.
- O que fazer? Como fazer? Vamos falar com sua mãe para ver se ela fica . -ingenuidade dos amigos!
Pois é, foram falar com a mãe e o padrasto dela, desejavam maiores informações, explicações e alguns foram....nada.
Malu contou para o seu pseudo-namorado sobre a mudança. Ele também não se conformou e foi falar com sua mãe, que explicou que não havia jeito e forma de que ficassem naquela cidade.
Malu, não conhecia a cidade onde iriam, mas já a odiava!
Como poderia ir contra se não era ainda uma pessoa independente, nada?
Quinze anos? Pela primeira vez, ficou com raiva de ter somente quinze anos! Queria poder ter poder de decidir seu destino! Mas era inútil e sua angústia só aumentava.
A mudança estaria agendada para o inicio do proximo ano.
Que tristeza viver naqueles dias antecedentes! Tudo era motivo de despedida! Tudo cheirava a despedida. As festas, os bailinhos, as paqueras, tudo! Uma tristeza sem fim!
Malu tinha certeza de que sua vida nunca mais seria a mesma em qualquer outro lugar! Nunca!
De fato ela tinha razão!
_Como poderia suportar tudo isso sem nada, nada poder fazer? O pior é que não se desejava fazer nada errado, nada! Só desejava viver , pela primeira vez em sua vida, uma vida estável, sem sobressaltos, sem mudanças geográficas, fisicas, uma vida que estava vivendo!
Ela chegou nessa cidade de uma terrível mudança vinda de um outro estado Vinha da cidade de Campo Grande, hoje capital do Estado do Mato Grosso do Sul, que vinha de São Paulo, capital, que vinha de Presidente Prudente...que vinha de.... e ali parecia que iria ficar....para sempre!
Mas não! Não soube entender que o concurso significava a mudança. Senão creia-me, Malu teria feito algo se tivesse chance para tal.
Fato é que a mudança foi um dos momentos mais significantes na sua vida. A despedida foi uma tristeza só. Despedida aqui, despedida alí e muita solidão, muita dor e dor na alma.
Foi para Campinas/SP, foi a viagem mais dolorosa da sua vida. Olhando pelo vidro do carro vendo tudo passar, as ruas, casas, lojas que conhecia, a rodoviária, as pessoas que nem conhecia, mas imaginava que nunca mais iria ver aqueles semblantes....uma tristeza só. Nada , nada poderia fazer. Isso era a pior parte! Aceitar as mudanças que a vida impõe, pensava ela. Que revolta por isso! Que raiva!
Com absoluta certeza ela jamais poderia gostar da nova cidade, jamais, mesmo que tivesse gostado, jamais iria aceitar e admitir que gostou, mas justamente pelas condições que foi levada à mudar de cidade , creio que até hoje ela ainda guarda a mágoa de um lugar que lhe foi imposto!
Malu tinha um plano, pequeno, sequer saberia dizer se iria ter forças para cumpri-lo, mas tinha um plano!
Ao aproximar o inicio das aulas do ano em que já estava na nova cidade, Malu se preparava, nervosa, será que iria até o fim com seu plano?
As aulas se aproximavam, então sua mãe lhe mostrou a nova escola e o novo local de trabalho, que por sinal não ficava muito longe da escola.
No primeiro dia de aula, Malu arrumou suas “coisas” escolares , pegou uma bolsa da mãe, naquela época a bolsa era grande, mas não tanto como é hoje, e colocou algumas roupas dentro. Como sua mãe nem desconfiou? - Pensou. Nada. Não usava as bolsas dela. Mas nada falou! Não sei dizer o que cabia lá, nem o que colocou. Sua mãe lhe deixou na escola e foi ao trabalho.
_ Nossa! Que mausoléo! - pensou! É aqui ? Bom deixa eu ver onde estou.
Foi até um escritório dentro da escola e informou sobre a secretaria. Chegando lá, avisou a quem de direito quem ela era, que era aluna nova, que vinha transferida de escola, que a vaga era dela mas que estava ali avisando que iria faltar pelo menos os próximos vinte dias, mas que voltaria e tomaria o lugar dela. Feito isso, saiu ao portão!
Sinceramente ela não sabia onde estava, lugar, bairro, nada!
Ao sair , perguntou a primeira pessoa que passou onde ficava a rodoviária. Acreditem, ficava a alguns quarteirões dali. Deu para ir a pé!
Pensava: Meu Deus! Que sorte!
Chegando lá, comprou passagem para Tupã , e ao descer para aguardar o ônibus, por sorte, encontrou um amigo de Tupã que estava indo para lá. Foram juntos. E no caminho ela contou o que e como estava lá.
Ela , na verdade, estava fugindo de casa! Era isso!
Contou ao amigo que já estava tudo combinado em Tupã.
Já que ia mudar, ela ao menos desejava voltar para passar o carnaval lá. Seria seu primeiro carnaval em clube fechado , pulando a noite com amigos!
Os amigos ainda foram pedir para que a mãe a deixasse voltar ao menos no carnaval, e não se sabe o porque, fato é que tudo lhe fora negado.
Vendo a situação irreversível combinou com seus amigos sobre a sua possibilidade de ir escondida.
O garoto de que ela gostava, aquele garoto que de inicio a perseguia, mas que agora haviam ficado amigos, mas não namorados, também a ajudou.
De fato foi com ele que ela combinou tudo. Ele a convidou para passar o carnaval na casa dele, sua mãe negou, então eles resolveram fazer por conta própria!
Ele lhe deu dinheiro para as passagens já meses antes.
_ E se eu não conseguir, como faço para te devolver isso?
_ Não precisa, não tem problema, mas voce vai conseguir, vou ficar esperando!
Não tinha celular, não tinha internet. Não tinha computador, não tinha nada disso naquela época. Foi tudo combinado meses antes e nunca mais falou sobre o assunto , até a data marcada. Pois o combinado era que no dia que ela fosse embora ela ligaria, avisando -o.
O que ela fez antes, foi avisar as amigas e as respectivas mães das amigas que no carnaval estaria lá e ficaria com elas, na casa delas. As amigas e alguns amigos sabiam sobre a possível fuga, é evidente que os pais dos amigos não!
Antes disso, nos preparativos para a fuga, escreveu uma carta para a mãe e entregou nas mãos da irmã, fazendo promessas e jogando pragas mil para que a irmã somente entregasse aquela carta, já no momento em que ela estaria na cidade de Tupã, isso seria por volta de oito horas da noite. A mãe chegava do trabalho por volta de seis e meia, então o que falar até as oito sobre a irmã fujona?
_ Voce não fala nada, enrola, diz que estou na casa da Cris, enfim, se entregar a carta ou falar pra mamãe antes da hora eu te mato! Nunca mais falo com voce se não te matar, e se não te matar eu acabo com sua vida em vida! Enfim, prometeu fazer da vida da irmã a mais sinistra possivel. Como elas nunca se entenderam ela sabia que a irmã iria contar antes.
A irmã ficou estarrecida, mas prometeu cumprir o tratado.
A viagem durava muito tempo. Em torno de seis a sete horas. E durante esse tempo ela foi conversando com esse amigo, e foi vendo em sua mente sua vida naquele lugar que estava indo.
Engraçado é que a lembranças ficavam tristes, já sentia saudades de coisas e momentos que não mais teria. Tudo seria desintegrado, pensava. Foi uma viagem sofrida emocionalmente.
Ao chegar na rodoviária, ficou feliz ao ver alguns amigos e inclusive o garoto esperando por ela. Gritavam: Ela veio! Ela conseguiu! Foi uma felicidade. Nem lembrava mais da carta, da mãe, irmã, nada!
Foi até a casa de sua amiga, cumprimentou a todos e estavam lá conversando e felizes quando toca o telefone.
_ Malu ! - chamou a mãe da amiga. Telefone pra voce. Sua mãe!
Meu Deus, e agora, a mãe iria estragar tudo! Mas ela foi atender.De início, a mãe só gritava, feito louca, depois ela disse:
_ Voce leu minha carta? Voce tem certeza de que leu direito a minha carta? Porque nela eu falo a verdade.Tanto falo que disse que estaria aqui, deixei o telefone da casa onde estou e voce está me ligando agora. Não é mesmo?
Ela disse que recebeu a carta na hora combinada, que de início ficou verde, vermelha de raiva e tudo mais, que ligou para o dono da empresa de ônibus, que era amigo da familia, para dizer que iria processar o cara porque eles venderam passagem para menor de idade e tudo mais, onde já se viu? Disse ela ao proprietário que, coitado, ficou sem saber o que fazer também, mesmo porque a viagem já tinha acontecido. O proprietário disse que ia pegar o nome dos funcionários que estariam trabalhando naquela hora e iria demitir quem tivesse vendido a passagem.
Quando Malu soube desse fato pela mãe ao telefone, ela disse para não fazerem isso!
Voltou à carta.
_ Voce lembra do que escrevi? Perguntou à sua mãe. Então presta atenção mais uma vez. _ sim, ela falava assim com a mãe ao telefone – eu disse na carta para que confiasse em mim, disse onde e como iria ficar, disse que já resolvi as coisas na escola para que com isso não se preocupasse, disse que não iria engravidar aqui não, se esse é seu maior medo, enfim voce confia ou não em mim? Então me respeite, porque essa é a minha vida e tenho o direito de fazer nesse momento o que estou fazendo. Estou me dando esse direito por ser a filha que sempre fui. Eu pedi , voce não deixou , então resolvi vir por minha conta e risco! Voce não tinha o direito de me falar não, porque eu não mereço esse seu não! Ficarei aqui por uns quinze dias e depois volto. Ufa! Consegui falar – pensou!
A mãe da amiga que nada sabia ficou surpresa com o que ouvia!
Mas do outro lado da linha, uma mãe , talvez assumindo um mea culpa, sossegou e ficou mais tranquila depois da conversa. Desligou o telefone mais calma.
Para tranquilizar a todos, contou que estava tudo bem com a mãe. Ufa! Mais uma vez!
Dalí um tempo, ainda , com todos na casa da amiga, aparece o pai do garoto lá. Nossa Senhora, agora ferrou! Pensou!
Mas o pai do garoto , era colega de classe da mãe da Malu, fizeram faculdade juntos, aliás o pai do garoto era o dono da faculdade e o dono do clube onde ela iria pular carnaval. Ele foi lá e disse:
_ Malu , sua mãe me ligou e contou o que voces dois fizeram. Mas não tem problema – Malu até acha que ele curtiu, gostou da daquela estória porque suas palavras não foram ditas de forma a repreender, mas sim em tom de diversão e alegria, com se estivesse orgulhoso dos dois!
_ Eu falei para sua mãe não se preocupar, que iria cuidar de voce enquanto estiver aqui. Certo? Voce chama quem voce quiser , e pode levar seus amigos ao clube para pular carnaval de graça. Ao chegar lá manda me chamar que eu coloco todos para dentro!
Êbaaaaaaaaa! Alegria geral!
Foi o carnaval mais feliz e depois o mais triste por ter sido o mais feliz da vida da Malu.
A mãe guarda a carta até hoje!
Malu vai recuperar o documento!